10 outubro 2006

Igreja de Jesus - uma Igreja pura e simples

Nos dias de hoje, caminhamos no meio de uma multidão bastante adversa em relação ao que no passado, originariamente, alguns poucos eram considerados os “do caminho”, ou seja, seguidores de Jesus de Nazaré, o Filho de Deus.
Pensar a respeito da Igreja, em meio às múltiplas formas de interpretação que fazem da Bíblia, onde cada um define seu modo de ser Igreja de Cristo, é um trabalho já feito por muitos – já bastante explorado por pensadores leigos ou não, que tentam de alguma maneira nos trazer novos entendimentos. A idéia aqui não é acrescentar mais uma interpretação, juntamente com os muitos investigadores da Eclesiologia, mas apenas apreciar o que somos em Cristo Jesus, como Igreja.
A Igreja de Jesus é boa, excelente, agradável e cativante, porque ela fala de Jesus, o Senhor da vida, ela não fala a respeito de si mesma. A Igreja de Jesus não é um fim em si mesmo, mas uma porta que proporciona conhecer o Senhor da Igreja: Cristo.
A Igreja de Jesus não busca aproximar as pessoas unicamente para si, sendo ela a razão e o motivo do Evangelho, mas centraliza todas as suas ações, jeitos e costumes, apontando em direção a Cristo. Pessoas que se juntam para caminharem atrás de Jesus.
A Igreja de Cristo não tem a mensagem do Evangelho, pois o Evangelho pertence ao Cristo da Igreja. A Igreja utiliza o Evangelho de Cristo para anunciar o Cristo – seu senhorio, sua ação salvadora, sua natureza divina – portanto, Ele é o centro. O corpo sem a cabeça não possui finalidade, ou vida própria.
Jesus Cristo é o único motivo da existência da Igreja. Não existe outra razão para a sua existência, para a sua reunião, senão, amar a Jesus, adorá-LO, falar sobre Ele, viver no exemplo de vida dEle, dar ouvido exclusivamente a Ele, conduzir as pessoas para a presença de Cristo, o Senhor. A Igreja é a noiva de Cristo, portanto, sua fidelidade a Ele é total.
A atitude da Igreja de Cristo é semelhante à de Maria, irmã de Marta (Evangelho Segundo São Lucas, capitulo 10, versículos de 38 a 42), que quedou-se aos pés de Jesus, e por Ele foi aprovada. A Igreja de Cristo é formada por cristãos que se reúnem e se assentam diante de seu Senhor, que igualmente se juntam em redor da mesa da Santa Ceia, e partilham de sua presença. Que buscam conhecer a Cristo, dedicando a Ele sua atenção.
Na Igreja de Cristo não há predominância cultural. A Igreja preserva sua essência e suas características de maneira atemporal, não caminhando no secularismo, ou desejando se moldar aos que são deste século, mas busca todos aqueles que estão neste século, para se moldarem à simplicidade da mensagem e da pessoa do Mestre.
A Igreja convida a todos, sem insistência, a seguirem o Senhor. Neste caso, a Igreja de Jesus vai caminhando atrás do Mestre, mediante uma atitude de amor, de vontade, pois seguir a Cristo é irresistível, e somente Cristo é o motivo do convencimento [quem tem ouvidos ouça].
A Igreja de Cristo proclama uma salvação que não custa dinheiro. Salvação tal, que não possui pedágios no caminho para o céu, e não se importa com riquezas ou bens. A igreja de Jesus não acredita ser o dinheiro o facilitador da mensagem do Evangelho, na tentativa de apresentar Cristo que é sinônimo de humildade, simplicidade, desprendimento, e que pode ser conhecido onde apenas existam corações e mentes abertas. Ao mesmo tempo, busca que seus desejos e vontades sejam convertidos e transformados.
A Igreja cristã anuncia a necessidade do homem em se entregar ao senhorio de Cristo. Um senhorio que exige abnegação, não alimentando a auto-suficiência, mas que busca em Cristo o seu próprio querer.
“Porque, onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, ali estou no meio deles”. (Mt 18.20). Tal afirmação parece ser bastante suficiente. Se não conhecêssemos nada a respeito da Igreja de Cristo, após esta afirmação do Mestre, muito provavelmente não sentiríamos a ausência de nada, não teríamos nenhuma necessidade em sermos uma Igreja com características institucionais, que geram modelos, ou teorias pouco convincentes, porém, muitas vezes, distantes da simples e suficiente essência da reunião dos dois ou três, que experimentam a presença de Cristo, que não foi convidado para estar presente, mas que convida.
A Igreja de Cristo não busca ou convida que Ele esteja presente, mas é Ele, Cristo que atrai a sua Igreja. A reunião de dois ou três é fruto da atração provocada por Deus. É possível pensar que nem todos sejam atraídos, até porque o Senhor conhece os seus. Também é possível supor que a Igreja de Cristo não possui a prerrogativa de levar as pessoas na presença de Deus, mas é Cristo, o Bom Pastor, que atrai os que ouvem e conhecem a sua voz.
Estar reunido em nome do Senhor Jesus é estar em volta dele. Ser Igreja de Jesus é propiciar conforto, abrigo, amor, consolo, transformando o “momento Igreja” em algo acolhedor, curador, e receptivo a qualquer ser humano necessitado e carente.
Ser Igreja de Cristo é estar distante de qualquer preocupação que roube a presença esplendorosa do Deus Triúno, que ofusque o sentido da cruz, o sentido da adoração ao Senhor. Vivenciar o momento de reunião de dois ou mais é convidar Cristo para entrar no meio dos que estão sem rumo, indignos de qualquer aceitação.
A Igreja de Cristo é aquela que se concentra na reunião dos dois ou mais. Uma reunião que convida a todos, com suas diferentes histórias, pecados, e imperfeições. É uma reunião que oferece a possibilidade de ser composta por pessoas sociologicamente sem valor. Uma reunião para pecadores arrependidos, tiranos, impostores, devedores, injustiçados, angustiados, homens e mulheres em aperto (conforme os que se juntaram com Davi em Adulão – Primeiro Livro de Samuel, capitulo 22).
A Igreja de Jesus não é para os que se consideram perfeitos, mas, sim, para aqueles que buscam O perfeito, que é Cristo, o Senhor. Uma reunião para publicanos e pecadores, que estão perdidos, sem esperança e sem aceitação. Não é uma reunião para fariseus, que tornam a Lei mais pesada, inviabilizando a mensagem do Evangelho da graça de Deus (Evangelho de São Lucas, capítulo dezoito, versículos de nove a quatorze).
Estarem reunidos em nome do Senhor Jesus é andar na direção que as Escrituras sinalizam – mais necessariamente na direção que Cristo aponta. Estarem reunidos em nome do Senhor é recusar a vaidade da religião. É recusar a vaga possibilidade de méritos humanos que, muitas vezes, torna-se o motivo do reunir-se, e, que, consequentemente, torna-se a razão da ausência do Senhor.
É, na verdade, uma reunião de dois ou três desprovidos de mazelas, picuinhas, atitudes que demonstrem poder, sem nenhum sentimento de propriedade pelo rebanho de Deus, sem a preocupação por regimentos que mais espalham e apartam, do que ajuntam. A Igreja de Cristo é realmente simples.
A Igreja do Senhor que se reúne a partir de dois ou três, possui como objetivo tocar silenciosamente os corações vulneráveis, como também os corações petrificados. Há lugar para todos – continua não sendo necessário ter dinheiro, pois não há nada para comprar. O pagamento foi feito da parte do Senhor dos “dois ou três”, que por alto preço – sua própria vida – permite que haja uma reunião de celebração à salvação.
O ato de reunir-se a partir de dois ou três, não gera popularidade ou glamour, mas produz relacionamento provido de fé, que une a presença Triúna de Deus e a carência do homem, sem que o sino ressoe, ou as trombetas anunciem tal experiência que pertence apenas aos olhos da fé, que pertence aos que Cristo atrai.
Na reunião da Igreja de Cristo, sendo dois ou três, quem sabe um pouco mais, não há uma busca de Deus, uma expedição coletiva ao encontro do divino, mas é o divino que busca os que ouvem sua voz – não é num bater de tambores, ou numa evocação comportada que o Deus pessoal se achega, mas é nos corações abertos daqueles que o amam, e que se juntam em contemplação, e que caminham juntos em meio a todos os homens, vivenciando e testemunhando o reflexo do Senhor, um Homem-Deus, um Deus-Homem, vindo de Nazaré, que a todos surpreende.
A reunião de dois ou três em nome de Jesus, atravessa as vilas, estradas, cidades e vilarejos – sobe e desce as favelas, ruas e calçadas – entra e sai de prédios humildes e suntuosos, todos esses, como locais onde o próprio Cristo – uma das pessoas da Trindade, autor da vida, Senhor de tudo (Aquele em que tudo se move, existe, e encontra sentido e propósito), o Filho de Deus Pai, o Jesus nazareno – poderia estar presente. Na verdade Ele está presente, porque são os dois ou três reunidos que O representam.
A Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo, termo usado pelo apóstolo São Paulo, inicia e termina na reunião de dois ou três, que despretensiosamente, e sem nenhuma pauta, estão no “Caminho” que os leva em direção a Ele.
A imagem da Igreja de Cristo, iniciada por Ele, traz um aspecto de pureza e simplicidade, que não morre jamais, pois é na pureza e na simplicidade que a Rocha torna-se a base inabalável.
O tempo passou, mas a Igreja de Cristo continua registrada. É uma Igreja de 2.000 e poucos anos que não perdeu sua beleza, sua doçura, e que por mais que tente maquiá-la, acreditando que ela (a Igreja) envelheceu, saiu de moda, ou, precisa acompanhar os tempos e as estações, a verdade é que sua beleza continuará em seu estado natural, uma vez que, ela já nasceu madura.
O apóstolo São Paulo nos escreve: “para a apresentar a si mesmo * [trazer para perto de si, Jesus] igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga * [não há envelhecimento], nem coisa semelhante, porém santa e sem defeito [sem necessidade de torná-la mais eficaz, tendo em vista que sua santidade está edificada na Rocha, que é cristo, e que não carece de ajustes].”. (Epístola de São Paulo aos Efésios, capitulo 5, versículo 27).
* notas do autor

Um comentário:

Anônimo disse...

Meu querido amigo,

As vicissitudes eclesiásticas maculam o desenho do Mestre, ao se pensar apenas em sentido aristotélico, prático, experimental. Há um paradoxo no núcleo do Evangelho que escapa sempre de novo a cada dia nas imediações do mundo eclesial: a de que Deus não Se reduz às estruturas de qualquer igreja e, no entanto, é na igreja que temos o hábito de pensá-Lo perto de nós... Há templos vazios, amigo; pois há pessoas vazias...
Imagine que o que tivesse me acontecido fosse apenas um teste, não passando de simulação... quantos eclesiásticos e igrejeiros estariam aprovados?
Um beijo.