06 dezembro 2007

A Igreja Cristã no século XXI – (parte final)

Joerley Cruz

O século XXI é marcado por uma sociedade dinâmica. Somos testemunhas de acontecimentos desenfreados. Uma sociedade que, com suas características, marca seu desespero em busca do novo, da melhor tecnologia, dos modismos viciosos e impensados, e muitos na sua maioria, sem nexo.
Se por um lado a sociedade é dinâmica e sedenta pelo novo, a Igreja de Cristo sobrevive sem dinamismo, matando sua sede na fonte de água viva que é Cristo, o Senhor.
Muitos, diante de uma sociedade dinâmica e dinamitada, perguntam como, após tantos milênios, onde tudo se alterou, a Igreja Cristã não saiu do lugar. No entanto, a Igreja sobrevive com a mesma mensagem, com o mesmo Livro, adorando o mesmo Senhor, que é Cristo Jesus. O Reino de Deus é atemporal e independe das inovações humanas, ou teorias religiosas que tentam a cada geração, formar seus próprios filhotes.
A essência sobrepõe à forma. A Igreja Cristã possui sua essência inalterada, no entanto, em nome da diversidade das formas, muitos colocam a essência em risco, dando a primazia à forma de ser Igreja.
Podemos nos arriscar em pensar que há uma infiltração do secularismo na vida da Igreja, bem como nas cabeças cristãs.
O secularismo rejeita a possibilidade da fé, abraçando aquilo que é concreto. São os fatos que contam e não mais a experiência da fé, da dependência do Espírito Santo de Deus, que é concreto em Si mesmo. A devoção religiosa é colocada de lado, uma vez que tudo o que está ligado a uma experiência espiritual, percorre caminhos incertos e que exigem entrega total da alma e do corpo, sem ansiar pela certeza do próximo passo, sem ansiar pela segurança de onde se está pisando.
O secularismo é um desabraçar a espiritualidade cristã, tornando-se dependente dos caminhos lógicos da vida. Há apenas lugar para uma espiritualidade de resultados, uma espiritualidade que deixou de ser espiritual, e passou a ser corporativista, possibilitando ao homem encontrar-se em si mesmo, de maneira que ele se torne alguém melhor consigo. Tal pensamento anula a experiência de esvaziamento que devemos ter diante do Deus pleno. Não é possível haver espiritualidade sem a perceptível presença de Deus, uma vez que nosso espírito não se encontra com nosso próprio espírito, mas é constantemente preenchido pelo Espírito que nos alimenta e sustenta. É possível um autoconhecimento, onde somos deparados com nossa natureza, de maneira que em nosso encontro com Deus, nossa identidade nos é clara.
Os nossos olhos contemplam, dia a dia, tudo aquilo que o nosso coração, naturalmente, espera – somos seduzidos, envolvidos de tal forma, que cresce em nós uma paixão avassaladora por aquilo que contemplamos (1 João 2,15-17) – o evangelista João nos aconselha a não nos enredarmos (v.15), pois se isso acontece, e se desenvolve, automaticamente Deus é esquecido.
Tudo o que nos seduz e nos leva a esse envolvimento, oriunda da própria vida – vida sem sentido, como escreveu Salomão (Ec 9). Os desejos da carne, dos olhos, e a soberba da vida (v.16) nos leva de volta às nossas origens.
O mundo é transitório. A vida é transitória. A vontade de Deus percebida e executada leva-nos ao essencial, ao eterno. (v.17)
A Igreja de Jesus, mesmo em meio às perseguições, sempre esteve livre para ser quem ela é: pessoas reunidas em torno de Cristo, o Senhor. São pessoas desprendidas e desvinculadas com qualquer imposição humana (Atos dos Apóstolos 4,19-20). Mas que vêem em Jesus toda a sua esperança e satisfação.