06 outubro 2006

Deus, o homem e o jardim

É maravilhoso ler as páginas do Gênesis e notar a perfeição dos fatos. Deus criando um jardim, com animais, frutos, paisagem paradisíaca, e o homem para cuidar de tudo. Isso nos faz concluir: Deus criou o homem para ser jardineiro. Como o homem precisava de uma companheira, Deus criou a mulher, e essa poderia fornecer vasta opinião no cuidado do jardim, afinal, ela via beleza nos frutos das árvores. É possível crer que a rotina era maravilhosa. Deus visitava o homem na viração do dia, se alegrando com ele, vivendo os prazeres da criação, dos momentos que embora simples, eram de incomparável profundidade – o Criador do jardim com o seu jardineiro amado. Infelizmente, o pecado entrou no jardim. A relação entre Deus e o homem se perdeu.As coisas mudaram de lá pra cá. O jardim já não é mais o mesmo. Jesus O Filho, veio resgatar a relação que teria desdobramentos espirituais. Jesus veio para reatar os laços entre o Dono do jardim e Seu jardineiro. O homem não seria para sempre perdido, e assim, de fato, o Filho conseguiu. No entanto, o jardim não seria mais o mesmo.O fato de sermos os jardineiros no jardim de Deus, não significa que seria necessário voltarmos ao Éden, mas a idéia é mantermos a essência do Éden, mesmo que o pecado tente roubá-la.O acréscimo das demais coisas na nossa vida, que Deus nos promete, pelo fato de buscarmos o seu Reino acima de tudo, significa que nossa água seria, para sempre, potável, limpa e própria para beber, estivéssemos em qualquer lugar, além de suas nascentes; significa que o pão de cada dia, para todos não iria faltar; significa que não perderíamos nosso precioso tempo com a esdrúxula idéia de prosperidade financeira... (o dinheiro não é elástico, precisa parar nas mãos de alguém – se sobra para alguns, falta para muitos, se alguns vivem em regalias, outros, então, deverão conviver com a miséria; parece-nos que o mandamento bíblico é dividir, e não tirar da boca de outros, mentindo que Deus os deu, porque viu neles merecimento – no jardim de Deus, todas as flores deveriam ser regadas).No jardim de Deus, uma vez que entrou o pecado, o sofrimento deveria ser compartilhado. Ninguém, nesse mesmo jardim, deveria ser colocado de lado. O amor em meio ao jardim transformaria o solo. Certa vez fomos avisados de que deveríamos nos amar, e isso faria diferença na administração do jardim. Talvez, para os menos românticos, isso seria impossível, mas foi assim que o Senhor desse jardim projetou. O amor a Deus e ao próximo, a harmonia, a submissão ao Senhor, e o reconhecimento de quem somos, bem como de quem Deus é, seria o ambiente de nosso jardim.Mas... o relato bíblico nos prova que o jardineiro desejou possuir igual conhecimento ao “Dono das terras”, o Dono do jardim. É inaugurado na raça humana o desejo de “poder” – ser jardineiro já não era mais o bastante. Quando viajamos na historia, de lá para cá, notamos, então, que o desejo de “poder” continua subindo na mente do homem. A disputa pelo território é motivo de derramamento de sangue; os revanchismos político-cultural-religiosos provocam derramamento de sangue, onde menos esperamos; o amor a terra e aos seus ideais, objetivos, metas e economias, passaram como tratores sobre as pessoas; a imposição religiosa, misturada à devoção doentia, continua sendo motivo de derramamento de sangue; a corrupção, o descaso, o caminho inverso da ética e da moral, o dinheiro duvidoso que anda para todos os lados e por todos os meios, tudo sendo investigado e acompanhado por “Circos montados”, verdadeiros Coliseus, onde os gladiadores são todos amigos, movidos de risadas, gargalhadas e de total descaso, nos fazendo mais uma vez concluir que o jardineiro não existe mais.E em pensar que o primeiro plano divino era que todos estivessem em um só jardim, adorando um só Deus, amando uns aos outros, e dividindo do jardim os seus frutos.Mas, voltando ao jardim... ainda ouvimos por aí que tudo isso soa muito romântico. De fato, quem renegou sua função de jardineiro, não suporta o simples cheiro da terra, das flores, das árvores, como também, o gosto do fruto. Sendo assim, além de renegarmos nossa função na jardinagem, abolimos o romantismo do simples. Em troca disso, a decisão foi ser mais pró-ativos, desejando andar na frente de tudo e de todos, para impressionar, para nos demonstrarmos maiores, melhores, e mais capazes. Para muitos, é difícil esperar de Deus o veredicto de todas as coisas. Acham melhor plantar e colher, por conta própria, o fruto que lhes vier à cabeça. O cuidado deveria ser o de nunca se esquecer de que Deus ainda é dono do jardim.Em suma, deixamos de ser ingênuos. Vivíamos em prol do cuidado daquilo que Deus nos confiou, comendo em Suas mãos, bebendo de Suas fontes. Mas, daí em diante, passamos a conhecer demais a vida e seus truques. Nos consideramos por demais desenvolvidos. Acreditamos, agora sim, como verdadeiros ingênuos, que o conhecimento do bem e do mal, por algum motivo, nos beneficia, nos permite vivermos com a gloriosa, porém falsa, noção de que tudo está sob nosso controle.Hoje não somos mais jardineiros. O jardim se tornara corrompido – aliás, em breve não mais teremos jardim, literalmente. Não temos a essência – não teremos a forma.O ser humano está vendido às suas próprias conclusões e soluções, todas ingênuas diante de Deus. E Deus? É lamentável que muitos O tenham colocado no meio do jardim, talvez para enfeitar o jardim, talvez para escrever embaixo de Seu busto: “Deus seja louvado”, ou “Em Deus nós acreditamos”, ou até usarem as Escrituras, inspiradas pelo Deus que está no meio do jardim, como ameaça para que se fale a verdade, nada mais que a verdade. O que mais Ele pode ainda lamentar, é que a viração do dia não mais exista. Não conhecemos Deus o bastante, mas poderíamos arriscar em dizer que Ele deve sentir saudades de sentar-Se nas praças do jardim, com Seu jardineiro.Poderíamos continuar sendo jardineiros? Sim, por certo! O jardim já não mais é o mesmo, mas o perfume das flores nos acompanha. Ainda que as pragas invadam esse jardim, se assim o quisermos, seremos os poucos que continuarão a zelar por ele.

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