Não faço nenhuma alusão ao filme ou ao livro, até porque não tive acesso a ambos. Chamou-me a atenção o tema: “comer, rezar e amar”.
É a base do homem: a comida, a oração, e o amor. Parece que os três prazeres importam ou valem mais do que qualquer tipo de outras obrigações que o homem se impõe, bem como impõe aos outros.
Comer é viver. É viver com prazer e satisfação. A comida não precisa ser vista como um causador de doenças – é notória a culpa pela obesidade e outras situações patológica e esteticamente indesejáveis, vista como momentos de impulsos e fugas resultantes de qualquer distúrbio. Mas quando bem compreendida é compreendida como o motivo que nos leva à mesa, desenhando amizades e amores. Comemos porque é satisfatório. Comer apenas para viver é atribuir somente ao estômago o prazer de saciedade. A boa comida bem digerida proporciona sensações de festa ao corpo – festa onde todo o corpo participa recebendo o que se é ingerido, iniciando pelo paladar, pela boca. O alimento é eucarístico uma vez que agradecemos quando o recebemos de Deus. Comer é experimentar concretamente a graça de Deus sem necessitar fechar os olhos e apelar para uma espiritualidade inacessível.
A oração é o alimento da alma. Falar com Deus é sentir-se completo, saciado pela companhia daquele que por si só alimenta. Falar com Deus e ouvi-lo é não mais experimentar a sensação de vazio. Após os momentos de oração a paz inunda o interior do homem. Parece que não é mais necessário fazer nada a não ser sentar, ou deitar, ou olhar para o céu com satisfação, com a noção de que tudo foi preenchido – uma convicção clara de que a Deus pertencemos. São as orações que devem sempre nos indicar que conversamos com o ser mais importante de toda existência. A oração é o tempo dedicado, é como reservar um momento exclusivo – da mesma forma como devemos dedicar o momento apenas para comer. A comida e as orações carecem de momentos únicos, exclusivos, valorizados pelos seus efeitos.
Amar é também viver e viver bem, como também nos serve de alimento. São João em sua primeira carta geral, diz que Deus é amor. Não se trata de caracterizarmos que tipo de amor. Todo e qualquer amor genuinamente divino – se é que existe algum amor não divino – se completa pela motivação de Deus. O homem foi criado para amar. Amar a Deus sobre todas as coisas, e amar seu próximo. Amamos as pessoas, pois elas são oriundas de Deus assim como nós também o somos. Amamos nosso parceiro(a) que escolhemos amar para toda a vida, porque Deus muito desejou ver-nos unidos com quem amamos. Amar é parte de uma declaração assinada por Deus em seus “cantares”. Quem não ama não vive. Há necessidade de amor que envolve alegria e serviço ao outro. Há necessidade de amor que envolve prazer. O prazer está no belo, no querer bem, uma vez que nosso corpo anseia pelo corpo de quem amamos intimamente, recebendo de Deus total e absoluta aprovação. Este amor se completa ainda mais, quando nas muitas das vezes, provoca procriação – os filhos são herança de Deus, diz a Bíblia. A herança de Deus vem como resultado de intenso amor. Amor dedicado e sem reservas é o caminho para recebermos quem Deus nos deu como herança. O amor feito na própria fonte é frutífero. É o beber se sua própria cisterna, já disse o sábio na Bíblia.
É impossível desvencilhar o ato de comer com a satisfação que há em Deus – o que muitas vezes uniu Deus ao homem foi a mesa posta – uma das últimas situações de comunhão de Jesus com seus discípulos fora sido na mesa, onde Ele mesmo afirmou que seria para sempre um ato sagrado.
A oração é a pausa da vida. É a pausa do comer e do amar. Inclusive é bom que fique justamente no meio, entre eles. Isso porque é a oração que liga tudo o que fazemos e que Deus achou muito bom que assim o fosse. No Gênesis da Bíblia há o relato de que Deus visitava o homem na viração do dia. Deus se faz presente e se satisfaz quando tudo se mistura. Há Deus em tudo, em todos os lugares, em todos os momentos. Não há meio de anular Deus, não há como não senti-lo, uma vez que Ele já está. Se Deus é o sujeito de nossa oração, em tudo e de tudo Ele participa.
Já o amor, e finalmente o amor, somente existe porque Deus nos incentiva para tal. Para com o próximo, que são todos os homens sem exceção, tornou-se lei definitivamente pela boca de Jesus. O amor desfrutado com quem nos tornamos somente uma carne, somente um corpo, tornou-se o presente de Deus, onde não nos sentiríamos jamais solitários – Deus olhou para o homem no jardim e desejou presenteá-lo. Adão encontrou Eva, sua mulher, e achou o bem maior (Provérbios 18,22); Eva encontrou Adão, seu marido, igualmente encontrou o bem, a paz, a harmonia e o favor de Deus. É presente. Deus presenteia o homem com a mulher, que como presente é valorizada e amada, devolvendo respeito pelo respeito recebido.
Coma, ore e ame, está é parte do homem na vida. As responsabilidades?! São cumpridas potencialmente por parte de quem vive bem...
Um comentário:
gostei muito texto, não tem como desvincular nenhum desses atos de comer, rezar e amar todos podem ser feitos para gloria de Deus.
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