06 setembro 2008

Símbolos de Deus

O Deus de Israel é simbólico. É simbólico porque o simbolismo é a linguagem que o faz se aproximar dos homens. Há em suas palavras e intenções simbolismos que traduzem seu real desejo em se comunicar com o homem.
Em toda historia bíblica encontramos a ação de Deus por meio de simbolismos. Da criação até a pessoa de Jesus, tudo caminhou de forma que Deus pudesse ser compreendido. Em Cristo, o simbolismo de Deus atingiu seu auge. As pessoas encontram Deus em Jesus, e o próprio Jesus se tornou sacrifício expiatório em favor dos homens, simbolizando o instrumental de Deus na absolvição do pecado dos homens – não há perdão de pecados sem sacrifício, portanto, o sacrifício simboliza o perdão de Deus.
Nasce o tabernáculo. Deus desejou que houvesse um lugar onde Ele habitasse. Não era fixo, até porque Deus não se prende em nenhum lugar. O símbolo do tabernáculo não está no endereçamento de Deus, mas na representação de Sua presença. Dentro do tabernáculo, Deus inclui objetos e expressões cerimoniais que simbolizam a Sua presença.
O rei Davi deseja construir um templo. O rei acredita que Deus, realmente, merece um lugar. No entanto, ele é impedido, uma vez que o templo é construído por seu filho Salomão. Daí em diante as experiências vividas no templo não foram das melhores. O templo se tornou um lugar de fonte de interesses humanos, alimentou os interesses dos homens, e Deus foi esquecido.
Nasce no coração dos homens o desejo de que Deus habite, que Ele esteja em algum lugar onde se possa vê-lo, na tentação terrível até, para alguns, de controlá-lo – afinal, se Deus está no templo, é lá que nos encontramos com Ele.
Nasce no coração de Deus o desejo de que os homens sejam habitados. Jesus destitui o templo. Em Marcos 11,15-18 o Senhor informa que Deus não está no templo, ainda que Deus atendesse as orações, sendo essas invocadas e dedicadas no templo, mas o templo perdeu o seu brilho, a luz se apagou, e as cortinas se fecharam. Este símbolo não foi vitalício.
Deus sempre desejou habitar. Cristo acampa entre nós. Monta uma barraca em nosso meio, ao lado de nossas barracas – é o Deus conosco. Porém, Ele não foi recebido. Por alguns, ele foi negado; outros o confundiram com profetas; outros encontraram nele possibilidades de favor; mas, na verdade, era Deus querendo estar junto, ao lado de nós.
Deus insistiu. Mandou-nos seu Espírito, e Este habitou em nós fazendo de nós Sua morada. Não há mais templo. Não há mais endereço. Deus nos ocupou e assentou em nós. Nos tornamos teto para Deus.
A igreja existe, mas existe em nós e não fora de nós. Não há como controlá-la, manipulá-la, alterá-la, adulterá-la, até porque se assim acontecer, seremos atingidos. Muitos são os que tentam assinar seus nomes na igreja de Jesus, mas fracassam e levam muitos ao erro. A igreja de Jesus independe das nossas regras, comportamentos, estratégias, e tomadas de decisões. Ela está tão acima de tudo isso que muitas vezes nem é notada. É possível fazer-se tudo, sem confirmar a natureza da igreja. Constroem-se templos suntuosos, edificam prédios belíssimos, criam ministérios dos mais criativos, mas por fim, voltam ao sentimento do templo, que não é mais um símbolo para Deus.
O templo não existe mais, graças a Deus, pois servia como meio de usurpação. A igreja não existe nos moldes dos templos, uma vez que é tentada a repetir atos de usurpação, escravizando pessoas por meio de visões humanas (alucinações espirituais). O que existe é a igreja em nós. Somos chamados à uma singela reunião. A reunião é o símbolo de Deus, pois conhecemos a Deus na reunião de suas três pessoas (Pai-Filho-Espírito Santo).
A igreja é o momento da reunião promovida. A reunião é o meio pelo qual a comunidade se compreende, se comunica, confirma sua real natureza, e cresce.
A natureza ativa da verdadeira igreja é o mutirão. Ninguém age sozinho em prol de um determinado interesse, do qual a comunidade não participa. Tudo é feito no coletivo, onde todos cooperam em prol de tudo. Não há partidarismo, não há destaques em grupos distintos, mas há uma cooperação no objetivo de união.
Há na igreja de Jesus uma sinergia (convergência das partes de um todo que concorrem para um mesmo resultado). Não é necessário nos desgastarmos com os multi-ministérios, onde existe uma intensa concentração que excede aos princípios básicos da reunião, e que é tendenciosa e sem sustentação bíblica em tornar o ambiente eclesiástico em um ambiente escravagista. Todas as pessoas trabalhando muito por algo, dedicando todo seu tempo e forças, na tentativa de comunicar que é essa a obra do Senhor.
No nosso século, onde a escravidão e o trabalho forçado foram oficialmente abolidos, as pessoas, fora e dentro do contexto eclesiástico, buscam serem ouvidas, incluídas, de maneira que alguém se importe com elas.
A inclusão do outro no meio de todos, onde nos dedicamos às palavras, aos gestos, aos sentimentos, à reflexão, à afetividade, ao amor.
O templo foi derrubado. A igreja não existe sem uma consciência clara de sua natureza, e por fim, somos igreja sem estarmos em lugar algum.
O símbolo de Deus é a reunião dos homens em amor.

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