Joerley Cruz
O melhor em Deus não é estudá-lo, mas senti-lo. Se a religião existe para religar Deus ao homem, ela, então, é boa.
O apóstolo Tiago nos diz: “Religião pura e irrepreensível aos olhos de Deus Pai consiste em cuidar de órfãos e viúvas em suas necessidades e em não deixar-se contaminar pelo mundo.” (Tg 1,27). A verdadeira religião não está nas intenções particulares, inovadoras, em um relacionamento com o Divino, sem aproximar-se do humano; ou, não é tão somente dar-se ao humano, justificando a presença do Divino. A religião real não é ritualista, mas interativa com Deus, com sua imagem e semelhança – o ser humano – e com sua criação que Ele, no início, achara boa.
Sentimos Deus nas nos momentos e situações que muitos depreciam. Para os mais curiosos, Deus está em lugares inacessíveis, assumindo formas indecifráveis e misteriosas. Para outros que são portadores da religião pura, Deus é mais bem percebido e compreendido em momentos não notados, e em pessoas desprezadas pela vida.
Sentir Deus é sentir o próximo – os que, preferencialmente, são ignorados pela vida e pelos homens. Tal conceito pode ser baseado uma vez que Cristo identifica-se com estes, por ser Ele, também ignorado. Quando sentimos o próximo, achegando-nos com amor, dando e recebendo, abraçando e sendo abraçado. Em tais atos Deus se faz presente, e por esse motivo, sentimo-Lo. Deus se manifestou em Seu Filho Jesus, nosso Senhor, quem em morte de cruz provou-nos sua humilhação e o sentimento de indiferença que partiu dos homens – foi Ele abandonado pelos homens – mas aqueles que o receberam, Ele deu o poder de serem chamados “Filhos de Deus”. Sentir Deus é sentir a cruz, juntamente com Cristo (Gl 2,19), unindo-se a Cristo em sua morte e ressurreição.
Deus está nos sorrisos inesperados, nas palavras daqueles que ninguém escuta, no olhar daqueles que muitos os desprezam; Deus se faz visível por aqueles que se tornam invisíveis. Sentir Deus é uma experiência interior, onde unimos o nosso espírito ao seu Espírito, bem como uma evidencia vivida no corpo, por meio dos gestos, sentimentos e motivações, andamos como Ele andou.
Viver Deus é alegrar-se em senti-Lo. Viver Deus é desfrutar de um prazer sem contornos. Viver Deus é viver em Cristo, compartilhando de seus atos de amor, obediência, submissão, e renúncia. Não é possível vivermos Deus, se a nossa vida gira em torno de si mesma (Gl 2,20), não adotando um estado de humildade e esvaziamento como o próprio Senhor esvaziou-se, para viver a vida no Pai, em prol dos homens (Fp 2,5-11).
Viver Deus é compartilhar de Suas vontades e princípios, mesmo de forma imperfeita, mas numa consciência a respeito do que Ele é e deseja. Somente vivemos Deus quando nos sentimos envolvidos por Ele. O que significa que longe de Deus não há vida, mas mera existência.
Sentir e viver Deus é usufruir de uma religião livre de rótulos e condições pré-definidas, e ao mesmo tempo, libertadora. Em tais condições não se observa ou estuda-se Deus, mas sua presença é notória, e a relação é vivencial. Já nos basta tê-Lo em nosso coração por meio da fé. Crê-se em Deus por senti-Lo e por envolver-se na busca de Sua vontade, que se torna alimento para nós.
É nossa religião, a nossa união com Deus e com o próximo. Sentir a Deus – sentir o próximo. Viver Deus – doar-se aos homens. Sendo assim, apreenderemos o que Tiago nos escreve: “sede executores da mensagem e não somente ouvintes” (Tg 1,22).
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