31 agosto 2007

Discipulado sim, liderança nem pensar...

Joerley Cruz

O que está havendo com a Igreja de Jesus? Por que tanta agitação em torno daquilo que anda distante das palavras do nosso Senhor?
Em nossos dias, nunca ouvimos falar tanto sobre formação de liderança. Para que tanta liderança, sendo que necessitamos aprender, a cada dia, vivermos como irmãos? A Bíblia declara a importância em sermos irmãos, em um ao outro ajudar, não como um organismo corporativista, mas como uma família. Não há da boca do Senhor, nenhuma insistência em nos relacionarmos, baseados em estratégias, técnicas, receitas que levam ao sucesso – sabendo de Quem é a Igreja, como se mede uma igreja de sucesso? O sucesso não seria de Cristo? Mas Cristo precisa de sucesso?
Tudo se inicia na observação honesta da natureza da Igreja de Cristo. “Porque, onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, ali estou no meio deles.” (S.Mateus 18,20).
A Igreja de Jesus é formada por aqueles que nasceram do Espírito do próprio Deus, sendo o Espírito, o condutor da Igreja – “O vento sopra onde quer, ouves a sua voz, mas não sabes donde vem, nem para onde vai; assim é todo o que é nascido do Espírito.” (S.João 3,8; cf. S.João 16,13).
A Igreja de Jesus não possui donos, nem sábios demais que se responsabilizem pelo “futuro da igreja”. Não somos capazes de assumir a direção das coisas do Reino de Deus, uma vez que somos súditos – “Vós, porém, não sereis chamados mestres, porque um só é vosso Mestre, e vós todos sois irmãos. A ninguém sobre a terra chameis vosso pai; porque só um é vosso Pai, aquele que está nos céus. Nem sereis chamados guias, porque um só é vosso Guia, o Cristo. Mas o maior dentre vós será vosso servo. Quem a si mesmo se exaltar será humilhado; e quem a si mesmo se humilhar será exaltado.” (S.Mateus 23,8-12).
A liderança pregada no seio da Igreja se preocupa com a organização, com métodos, em como fazer, aonde chegar, de maneira eficaz, “impressionando” e “encantando” os de fora, sem dar chances a ninguém em dizer que a Igreja é “chata” – uma vez que o secularismo recebeu créditos pela salvação dessa Igreja denominada “chata”. Talvez, seja verdade que a Igreja de Jesus não agrade a muitos, isso porque a Igreja de Jesus é formada por aqueles que enxergam exclusivamente o Senhor. Ela não consiste em satisfazer àqueles que se escravizam na sua própria eficiência, avaliando seus métodos, e investindo em suas placas. Estas questões arrancam a sensibilidade do evangelho, o evangelho que não depende de nosso raciocínio para produzir seus efeitos.
As pessoas não precisam ser lideradas, elas necessitam ser amadas por toda a igreja, pastoreadas por todos, ouvidas por todos. As pessoas da igreja não são números que se juntam em torno de idéias humanas, na possibilidade de entretenimento, ou projetos ao vento. Não há organograma no corpo de Cristo, mas há membros desse corpo que se auxiliam mutuamente. Aqueles que são Igreja precisam conhecer cada vez mais e melhor a cruz de Cristo, a sua ressurreição, e seu senhorio. Isso somente é possível, se houver uma insistente investigação nas Escrituras.
A vida cristã, na prática, não possui sentido se não nos assentarmos em torno das Escrituras, onde há revelação para a vida, e ensino para uma caminhada como discípulos do Mestre Jesus.
A Igreja do Senhor Jesus tem como finalidade reunir-se em volta do próprio Senhor, conhecê-lo mais, e convidar pra que outros façam o mesmo. Não há truques, mágicas, malabarismos, ferramentas, kits, nada que possa enfatizar a reunião da Igreja; mas existe apenas um sentimento de simplicidade e uma preocupação em sermos encontrados nele, Jesus, e como discípulos, andarmos como Ele andou. Somos chamados à simplicidade da reunião de discípulos de Jesus. Somos chamados ao discipulado. A impressão que se dá é que ninguém se contenta em ser discípulo do Senhor – talvez o sentimento do jardim do Éden nos fez voltar na síndrome do algo mais, do descontentamento com o ser discípulo.
Nosso Senhor não nos chamou para sermos lideres, mas para sermos discípulos, ouvindo a Sua voz, alimentando-se com a Sua vontade, adorando-O, e participando, coerentemente, de Seu Reino. Somos chamados ao discipulado, com simplicidade de coração, com desejo ardente de conhecer a Cristo – “Mas o que, para mim, era lucro, isto considerei perda por causa de Cristo. Sim, deveras considero tudo como perda, por causa da sublimidade do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor; por amor do qual perdi todas as coisas e a considero como esterco, para ganhar a Cristo.” (Filipenses 3,7-8).
Como discípulos de Jesus, nossa preocupação é andar com Cristo e em Cristo, convidando outros para que se juntem a nós, nas mesmas ações, e no sentimento do próprio Cristo.